"NINGUÉM DERROTA A MORTE SEM MATAR-SE"

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A Toca do Coelho

"Quem, de três milênios,
Não é capaz de se dar conta
Vive na ignorância, na sombra,
À mercê dos dias, do tempo."

Goethe

domingo, 31 de outubro de 2010

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Perdoem-me

Perdoem-me
Se não troco um segundo 
do amor desregrado
Por uma vida 
longa, estéril, enfeitada


Perdoem-me
Se não faço por merecer 
lisonjeios das santas condutas
Somente
a embriaguez afaga-me


Perdoem-me, perdoem-me
Se opto pela dignidade da verdade,
Pela vida
de meu espírito pagão
a sobrevivência 
ao vulgar
ao cristão


Perdôem-me
Por amar. 
Amando com plenitude
meus inúmeros amores
sem escrúpulos
sem vaidades


Perdoem-me
Por não ser capaz
de criar lentes corretivas
aos olhos que não me enxergam
direita


Perdoem-me, amados
Por essa vida,
essa 
que é minha e 
e de todos.


E se,
ainda assim 
acaso não me perdoares
rogo por vós: 
"Perdoa-os, eles não sabem o que fazem."


nathalia colombo

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Copacabana

Depois que descobri Copacabana
esqueci a sonhada ida à Grécia
o pôr do sol do sul na primavera
e o meu encanto por viver cigano


Depois que conheci Copacabana
desisti de ir morar em Bagdah
em Paris ou qualquer outro lugar
mesmo que o mais sagrado ou mais sacana


Depois que mergulhei em suas águas
e me afoguei na sua noite insana
jamais voltei a ser o mesmo cairo


Se me perdi nesta babel humana
quero morrer aqui na minha praia
e ir surfar no céu de Copacabana

Cairo de Assis Trindade

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A Vida Bate

Não se trata do poema e sim do homem
e sua vida
- a mentida, a ferida, a consentida
vida já ganha e já perdida e ganha
outra vez.
Não se trata do poema e sim da fome
de vida,
o sôfrego pulsar entre constelações
e embrulhos, entre engulhos.
Alguns viajam, vão
a Nova York, a Santiago
do Chile. Outros ficam
mesmo na Rua da Alfândega, detrás
de balcões e de guichês.
Todos te buscam, facho
de vida, escuro e claro,
que é mais que a água na grama
que o banho no mar, que o beijo
na boca, mais
que a paixão na cama.
Todos te buscam e só alguns te acham. Alguns
te acham e te perdem.
Outros te acham e não te reconhecem
e há os que se perdem por te achar,
ó desatino
ó verdade, ó fome
de vida!
O amor é difícil
mas pode luzir em qualquer ponto da cidade.
E estamos na cidade
sob as nuvens e entre as águas azuis.
A cidade. Vista do alto
ela é fabril e imaginária, se entrega inteira
como se estivesse pronta.
Vista do alto,
com seus bairros e ruas e avenidas, a cidade
é o refúgio do homem, pertence a todos e a ninguém.
Mas vista
de perto,
revela o seu túrbido presente, sua
carnadura de pânico: as
pessoas que vão e vêm
que entram e saem, que passam
sem rir, sem falar, entre apitos e gases. Ah, o escuro
sangue urbano
movido a juros.
São pessoas que passam sem falar
e estão cheias de vozes
e ruínas . És Antônio?
És Francisco? És Mariana?
Onde escondeste o verde
clarão dos dias? Onde
escondeste a vida
que em teu olhar se apaga mal se acende?
E passamos
carregados de flores sufocadas.
Mas, dentro, no coração,
eu sei,
a vida bate. Subterraneamente,
a vida bate.

Em Caracas, no Harlem, em Nova Delhi,
sob as penas da lei,
em teu pulso,
a vida bate.
E é essa clandestina esperança
misturada ao sal do mar
que me sustenta
esta tarde
debruçado à janela de meu quarto em Ipanema
na América Latina.


Ferreira Gullar

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Emoções

Da desperta manhã
Da tarde sonolenta
Da noite jazigua
Madruga tormenta

Miados, latidos
Gritos, grunhidos
Sussurros, gemidos
Prantos retidos

Luares, mares
Violam, ferem, rasgam
Defrontando-me a paz à luz dos meus olhos
Libertam, acalmam
Clama minh'alma
Sedenta, enfeiçada
Por teu doce colo.

Afável
Amável
Amigável
És, outrem coração!
Vestir-me com tua pele
É única emoção.


O cântico dos cânticos
Entoa a existência
 Mas absorto em desatinos
Adormeço em demência.

nathalia colombo

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Curtinhas 2

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Mamãe disse: "Você dá pra ser médica."
Papai indagou: "Você dá, é pra ser advogada!"
Vovó falou: "Você dá pra ser mãe."
Titia acrescentou: "Você dá pra ser psicóloga!"
Ah! Quer saber? 
Eu dou pra qualquer coisa...


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O homem
ainda não está pronto para o amor.
Fiquemos, então,
Com os surtos de emoção!


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Mais importante que
observar um ponto
é enxergar sua tendência.

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nathalia colombo

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O Louco

Dois em um, só
não se entende
se é
Descobri, se abre pra si
se fecha pro mundo
se sente demente se curva
loucura, sem culpa.
Não se sabe o instante
susurro, procuro, reluto
confuso, envolto no vento, só
Surdo vazio do peito suado
recorro sem jeito, socorro
Que medo de mim.

Beija-Flor

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Um Leminski pede Três...

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das coisas
que eu fiz a metro
todos saberão
quantos quilômetros
são


aquelas
em centímetros
sentimentos mínimos
ímpetos infinitos
não?
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entre a dívida externa
e a dúvida interna
meu coração
comercial
          alterna
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o novo
não me choca mais
nada de novo
sob o sol


apenas o mesmo
ovo de sempre
choca o mesmo novo
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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Minhas Palavras de Amor

Não sei falar de amor.
As palavras se embaralham,
Algumas letras se perdem no céu da boca, e amargam.
Decepção! Não sei falar de amor.


Não sei ler palavras de amor.
Vogais e consoantes jogadas no papel tentando objetivar o subjetivo.
Amor gramatical, de um alguém/ninguém, algo não vivido.
Não é o que tenho, nem o que vivo. Nada além de palavras de amor.


Não sei escrever palavras de amor.
Às vezes as falo. Às vezes as leio.
Mas nunca saberei escrever “Eu te amo”.
Palavras difíceis de escrever estas de amor!


Enfim, prevalece o mistério das palavras de amor,
Palavras lidas, escritas e ditas,
E estas que te ofereço, estas que sempre são tuas,
Palavras não ditas, escritas ou lidas, minhas palavras de amor.


Felipe Fil, para Taty com amor.
06/05/02- 12/05/02.

domingo, 17 de outubro de 2010

Leminski

objeto
do meu mais desesperado desejo
não seja aquilo
por quem ardo e não vejo


seja a estrela que me beija
oriente que me reja
azul amor beleza


faça qualquer coisa
mas pelo amor de deus
ou de nós dois
seja

sábado, 16 de outubro de 2010

Curtinhas

No fim das contas, todos os artistas cantam
Em distintos timbres, tons
Pelo mesmo coral,
Entoando a mesma música.
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Fique você com suas verdades, aí
Que eu vivo minhas mentiras, aqui.
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65, 93, 47, 103, 15, 6, sem lógica!
Apenas não recordo minha idade.


nathalia colombo

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Shine On You Crazy Diamond

Remember when you were young,
You shone like the sun.
Shine on you crazy diamond.
Now there's a look in your eyes,
Like black holes in the sky.
Shine on you crazy diamond.
You were caught on the crossfire
Of childhood and stardom,
Blown on the steel breeze.
Come on you target for faraway laughter,
Come on you stranger, you legend,
You martyr, and shine!


You reached for the secret too soon,
You cried for the moon.
Shine on you crazy diamond.
Threatened by shadows at night,
And exposed to the light.
Shine on you crazy diamond.
Well you wore out your welcome
With random precision,
Rode on the steel breeze.
Come on you raver, you seer of visions,
Come on you painter, you piper,
You prisoner, and shine!


Nobody knows where you are,
How near or how far.
Shine on you crazy diamond.
Pile on many more layers and
I'll be joining you there.
Shine on you crazy diamond.
And we'll bask in the shadow
Of yesterday's triumph,
And sail on the steel breeze.
Come on you boy child,
You winner and loser,
Come on you miner for truth and delusion,
and shine!

Composição: David Gilmour / Roger Waters / Richard Wright

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Prancha

Tá fazendo água,
ex-amado!

Ninguém "entrou aqui de gaiato"
e hoje, abandono o barco
- pode me chamar de rato - 

Não se amarre ao leme
só pra se fingir de mártir:
seja mesmo homem, capitão,
não marinheiro, imediato.

Essa artimanha de menino
já não cola mais.

Tenho manha de sereia
e gente me esperando no cais.

Flávia Perez

domingo, 10 de outubro de 2010

Os Bem-aventurados

Bem - aventurados
Os que amam,
Os que beijam,
Os que cantam;
Os que criam,
Os que crêem,
Os que contam!

Bem - aventurados
Os que mentem,
Os que rezam,
Os que choram;
Os que abraçam,
Os que entendem,
Os que solam!

Bem - aventurados
Os que sonham,
Os que curtem,
Os que escutam;

Os que não sabem,

Os que não jogam,
Os que não morrem!

Benditos 
Os padres, as putas,
Os anistiadores;
As crianças, os amigos,
Os pacificadores!

Benditos
Os pais, os insanos
Poetas;
Os malandros, malditos,
Patetas!


Benditos
Os ratos, excêntricos
Palhaços;
Os músicos, toscos
Bagaços!

Suas vidas
não serão vis;
Sua emoção
não há de ser vã.

nathalia colombo

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Minha Gostosa e Deliciosa Musa

Não me interessa de onde é originária
Não me interessa de que nacionalidade és
Se da França, Filipinas ou Brasil
Não me interessa...
Não me interessa de que árvore venha
Que raízes tenha
Só me interessa é chupá-la...
Sim! Chupá-la.
Sentir seu instigante perfume
Entranhar em minhas narinas
E chupá-la...
Sentir seus fios dourados entranhar em meus dentes
E chupá-la
Esta sua pele macia, pintada e cheirosa
Que me faz comê-la
Este seu líquido quente a correr pelo canto de minha boca
Que me leva a chupá-la e a degustá-la
Com afinco
Com gozo
Com tesão
Até o caroço.
Minha gostosa e deliciosa...
Manga.

Dalberto Gomes

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Personalidade Múltipla

Para ser inteiro
Sê múltiplo dentro ti.


A percepção que permeia
A realidade lúdibre e fugaz
É terra fértil para o florir
Da sanidade extemporânea.


A luz que banha a superfície dos objetos
Em sutis movimentos ondulatórios
É o ensejo de teu intelecto
Para a apreciação de tal formosura.


As notas que imperiosamente
Invadem teu senso impiedoso
Impele teu íntimo ímpio
Do profano ao sacro, e vice-versa.


O tom do batuque daqui
Reverbera dali acolá
Que te acossa, salpica sapeca
Te punge, pinica e te pega.


Tens em ti
Tudo quanto necessário
Para que as vozes de teu ostracismo
Emerjam altivas, em timbres distintos


Porque só se vê, quando vemos
Só se é, quando somos
Eu, tu, nós, vós. 


nathalia colombo

domingo, 3 de outubro de 2010

Digo sim

Poderia dizer
que a vida é bela, e muito,
e que a revolução caminha com pés de flor
nos campos do meu país,
com pés de borracha
nas grandes cidades brasileiras
e que meu coração
é um sol de esperançasa entre pulmões
e nuvens
Poderia dizer que meu povo
é uma festa só na voz
de Clara Nunes
no rodar
das cabrochas no carnaval
da Avenida.
Mas não. O poeta mente.
A vida nós a assamos em sangue
e samba
enquanto gira inteira a noite
sobre a pátria desigual. A vida
nós a fazemos nossa
alegre e triste, cantando
em meio à fome
e dizendo sim
– em meio à violência e a solidão dizendo
sim –
pelo espanto da beleza
pela flama de Tereza
pelo meu filho perdido
meu vasto continente
por Vianinha ferido
pelo nosso irmão caído
pelo amor e o que ele nega
pelo que dá e que cega
pelo que virá enfim,
não digo que a vida é bela
tampouco me nego a ela
– digo sim
Ferreira Gullar

sábado, 2 de outubro de 2010

Vamos celebrar?

E se aproxima o fim da festa da democracia. Uma festa com coxinha de galinha massuda, risole de camarão só com o cheiro de camarão e empadinha ressecada. Tudo isso regado a muito guaraná Jesus. Afinal, só Jesus salva. Mas não este Jesus cabo eleitoral para um monte de pseudo-religiosos no horário político.

Uma festa na qual o aniversariante só ganhará presente de grego. Afinal, nenhum candidato está apto a ser presidente. Existe um treinado, mas apto nenhum. E não me venha com esse papo de que o país está precisando de uma presidenta.  Ele precisa é de uma pessoa preparada, independente do gênero.

Voltando aos presentes, o da primeira foi escolhido pelo pai. O segundo tentou dar um presente simpático, mas ficou forçado e não agradou. A seguinte pensou em um presente bacana, mas não soube como comprar e o último acha que presente é coisa das classes dominantes. Isso sem contar os primos pobres, convidados para a festa, mas sem dinheiro para participarem. Tudo isso no primeiro ambiente!

O segundo ambiente se encontra lotado, todo mundo hoje resolveu ser deputado ou descobriu que sabe ser deputado. Na verdade eles só estão nesta festa porque eles querem é poder participar de outra farrinha. A orgia do dinheiro público na Copa e nas Olimpíadas, uma festinha mais fechada, só para os VIPs.

No terceiro ambiente um baile de máscaras. Todo mundo usando a fantasia de cordeiro. Querendo ser o novo pai dos pobres. Usando a máscara para dizer um monte de mentiras ou pelo menos omitir a verdade. Sem contar o constrangimento de mostrar que nenhum candidato a governador apresentou propostas novas. Todas as idéias são velhas, apenas retocadas, mas velhas. Se não deram certo antes, por que dariam agora?

O último ambiente tem a festa mais patética, reunindo todos os ambientes anteriores. Nunca esteve tão 
complicado escolher um senador. Para deputado ainda tem um ou outro merecedor de voto, mas para senador... Só tomando muito guaraná Jesus. O pior é termos que escolher dois, se já esta difícil escolher um, imagina dois. Não adianta tentar escolher o menos ruim, você é obrigado a votar em pelo menos um muito ruim.

Não pensem que me esqueci dos detalhes da festa. As músicas serão os jingles, as letras são nojentas, mas fazem um barulho legal. Para enfeitar: placas, muitas placas, tantas que impeçam as pessoas de andarem. Mas para animar mesmo temos nós, os palhaços de plantão. Sempre aí para dar aquela força quando eles precisam.

E você acha que acabou? Lógico que não. Depois vem o enterro dos ossos, sabe como é. Não pode sobrar nada. Mas será rápido o Brasil será enterrado vivo mesmo. 

Luiz Otávio Felgueiras

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Escrevo

Para que a vida se refaça
e não se desmonte;
Para que o coração não pare
na linha do horizonte;
Para que a surdez seja ouvida
E a cegueira acolhida,
Para que não se forme pedra
para não transpor um monte.


Escrevo.


Para saber dizer sim
em detrimento
da estúpida e Insípida
Recusa;
Para aguçar os sentidos
Não somente perante tudo
Mas também 
Diante de Nada;
Para despir-me 
do laço do rancor à espreita
a cada brecha de descanso d'alma;
Para extrair do sombrio semblante
O amor que o espalma;


A cada momento,
Escrevo.
No pensar, no olhar, no ar...

nathalia colombo