"NINGUÉM DERROTA A MORTE SEM MATAR-SE"

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A Toca do Coelho

"Quem, de três milênios,
Não é capaz de se dar conta
Vive na ignorância, na sombra,
À mercê dos dias, do tempo."

Goethe

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Dor de Menino

Otro dia meu irmão
Deu é pra chorá
Mai num dexô ninguém drumi
Feiz todo mundo acordá

O zum-zum-zum envolta dele
Mai ninguém adivinhava
Por que tanto chororô
O menino num parava

As tia véia vei dá pitaco:

"Num é dor de cabeça?"
"Num é dor de barriga?"
"Ai que tanta dor um nenê pode ter
em tão pouco tempo de vida?"

A vó:

"Ocês pára de grosseria
Num se trata assim ninguém
Inda mais que dor nessa vida
Todo mundo tem

É dor de parto, dor de ouvido
dor de dente, dor de viado
dor de corno nos marido
de cotovelo nos apaixonado

Deu sór, dói os ói
Deu chuva, dói os osso
Ih, dói o peito nas vitória
e lá no fundo do poço

Que a dor faz parte da vida, meu fio
E cria caráter no sujeito
Nuns deixa o coro macio
Cum otros, num tem jeito

As dor vai sempre ixisti
Quer num quera, quer goste
Mió é num resisti
Que gripe num dá em poste."

Inquanto a vó falava
O nenê adormeceu
I só intão arreparei
No que foi que sucedeu 

O menino, tava nascendo os dente
I o pobre num podia falá
Como é que ele ia dizê o que sente
A num ser dá pra chorar

Aí eu entendi que a dor vem das ferida
Que abre quando a gente veve
Seja véio seja novo
A vida sempre deve.


Nathalia Colón