"NINGUÉM DERROTA A MORTE SEM MATAR-SE"

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A Toca do Coelho

"Quem, de três milênios,
Não é capaz de se dar conta
Vive na ignorância, na sombra,
À mercê dos dias, do tempo."

Goethe

domingo, 28 de novembro de 2010

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Eros e Psique

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.


Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.


A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.


Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.


Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.


E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,


E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

Fernando Pessoa

sábado, 20 de novembro de 2010

INFÂNCIA

Houve um tempo de escola
E cócegas.
Onde nem tudo era bom,
Mas tudo era ou bom
Ou mau,
Sem meios-termos.


Feliz eu não era.


Desde pequeno
Eu nunca soube ser criança.


Victor Colonna

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

domingo, 14 de novembro de 2010

Vocação

"Sou o mago das coisas mínimas, rasteiras,
 Tão dóceis e lindas em sua aparência inútil,
 Como os restos sem valor ou função, besteiras,
- A real ligação do aparente inconsútil-.
 Como o mistério do musgo à sombra entre os tacos,
 Como as minúcias de algarismos e de letras,
 Desvendando luz no que é considerado opaco,
 Enxergo o que revela o lixo, o gueto, as gretas,
 Herdo, solidário, o abandono a elas votado,
 Cumpro a solitária função de me importar
 Com as sobras, o que não deve ser amado
 Porque seja sujo, feio, fraco ou sem lar.

 Busco, suicida, o sublime do desprezado
 Pois creio na ubiquidade do verbo amar."

Eduardo Tornaghi

sábado, 13 de novembro de 2010

Princesa

Sempre sonhei em ser princesa, 
Ver a vida sobre a perspectiva 
De um conto medieval
Me fiz donzela puritana
Filha domesticada
E fui colocada num lindo pedestal 
Eu só não sabia que a princesa
como o próprio romance
é baseado no ideal
E ela se desfez
Quando da primeira vez
Se viu jogada, sendo penetrada
Entre sangue e gozo
Por seu cavaleiro medieval.
A princesa era eu
E hoje eu rio 
Da minha  tamanha ingenuidade!
Ingenuidade minha pensar que 
Na cama sendo serva pagã 
Eu estaria liberta do meu pedestal para a sociedade
Hoje eu aprendi a fugir
E agora há muito mais a aprender
Eu sou muitas coisas quando eu quero
Sem ser preciso provar a ninguém 
para realmente o ser.  
A princesa ainda é princesa
Mas ela pode ser o que você quiser
Mas aprendeu a ser sobretudo
Muito antes de qualquer coisa
A ser mulher. 



Paula Camposo

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Sobre Protetor Solar

O sol queima de verdade
E deixa feia até beldade
Use protetor solar
Pra sua pele não chiar
Não é papo pra vender
E não pague para ver
Eu paguei e me fodi
Senão, não estaria aqui.


A rima é bem pobre
Mas a idéia é rica
Culpa desse sol
E mente de titica.


Monteiro Racista

Desde já afirmo que o texto poderá ser polêmico. Não acredito que se torne, mas pode acontecer. De qualquer forma, não era para ser.
Onde, no mundo atual, ainda há espaço para polêmicas sobre a cor (Posso escrever cor?) de alguém? De acordo com as últimas notícias no Conselho Nacional de Educação ainda há. Para quem não sabe o que aconteceu, eu explico.
                Fizeram uma denúncia a um dos membros do conselho de que o livro “Caçadas de Pedrinho” de Monteiro Lobato era preconceituoso. Para resumir, a relatora concordou, enviou seu parecer para o Conselho e ele foi unânime em concordar com o parecer dela. O relatório pede ainda que o livro não seja mais distribuído em escolas, mas se continuar sendo que contenha uma nota falando sobre os recentes estudos sobre igualdade racial.
Se Monteiro Lobato era racista, o Naturalismo era o que? Prendam meu ex-professor de português! Aquele mensageiro do inferno recomendava “O Cortiço” de Aluísio de Azevedo. Para quem não leu, tem uma mulata (Essas mulatas...) que acaba com um casamento.  Um português que é violento e adúltero (Essas mulatas...). Ainda chama o malandro de covarde e por aí vai. Jorge Amado é outro, Tieta e Dona Flor realmente são exemplos de mulheres!  
A verdade é que conseguiram transformar coisas sérias como igualdade social e racial em palhaçadas. O objetivo disso tudo é tirar o foco dos reais problemas. Como salários melhores e mais valorização dos profissionais de uma instituição de ensino, de todos eles, não só dos professores! Escolas decentes e mais seguras. Como seguir com o planejamento anual se toda semana a aula tem que ser interrompida por causa de tiroteio? Só eu acredito que se os alunos tivessem uma aula de português decente não precisariam de uma nota explicando que Monteiro Lobato usava figuras de linguagem? Até porque depois será necessário anexar outra nota explicando figuras de linguagem.
Se um negro tem o direito de usar uma camisa escrita “100% negro” um branco tem o mesmo direito de usar uma camisa escrita “100% branco”. Mas sabemos que não é assim que as coisas funcionam, logo apareceria alguém dizendo: Ninguém é 100% branco seu preconceituoso. Assim como ninguém é 100% negro. Ambos pelos mesmos motivos. Só eu acredito que se os alunos tivessem uma aula de história ou geografia decente não precisariam de uma nota explicando o motivo disso?
Eu já vi negro dizendo para outro negro que ele só faz negrisse. Isso não é preconceito? Já vi gordo dizendo para outro gordo que ele só faz gordisse. Isso não é preconceito? Quando um negro chama um branco de ”leite estragado” é o que? Quando um gordo chama um magro de “bambu” é o que? E o preconceituoso é o Monteiro Lobato por causa de um livro publicado em 1933!
Infelizmente, muitas pessoas utilizam o preconceito como escudo para as próprias deficiências. Como se competência tivesse alguma relação com o código genético. Certa vez vi na televisão uma modelo dizendo que não tinha conseguido o papel em um comercial pelo fato dela ser negra. Ela simplesmente ignorou o fato do comercial ser para um xampu para cabelos lisos e ela ter cabelos encaracolados. Não, para ela é mais fácil por a culpa no preconceito e dizer que não conseguiu o papel por ser negra (E não era!).
Não digo que o preconceito tenha acabado no Brasil. Não sou maluco ou idiota de dizer isso. Mas afirmo que um dos motivos dele não ter acabado é por que muitos só querem saber da igualdade no direito de passar por cima do outro. Independentemente de cor, credo ou classe social.
Um branco pode acabar com a vida de outro branco que ele não goste tanto quanto um negro pode acabar com a vida de outro negro. O nome disso é índole. Algo que não pode ser medido pela quantidade de melanina nela.  Só eu acredito que se os alunos tivessem uma aula de biologia decente não precisariam de uma nota explicando o motivo disso?
De repente você esteja pensando. “É, mas aqui é Brasil! As coisas são sempre assim”. E isso não é preconceito?

Luis Otávio Felgueiras

sábado, 6 de novembro de 2010

Papos

- Me disseram...

- Disseram-me.

- Hein?

- O correto é "disseram-me". Não "me disseram".

- Eu falo como quero. E te digo mais... Ou é "digo-te"?

- O quê?

- Digo-te que você...

- O "te" e o "você" não combinam.

- Lhe digo?

- Também não. O que você ia me dizer?

- Que você está sendo grosseiro, pedante e chato. E que eu vou te partir a cara. Lhe partir a cara. Partir a sua cara. Como é que se diz?

- Partir-te a cara.

- Pois é. Parti-la hei de, se você não parar de me corrigir. Ou corrigir-me.

- É para o seu bem.

- Dispenso as suas correções. Vê se esquece-me. Falo como bem entender. Mais uma correção e eu...

- O quê?

- O mato.

- Que mato?

- Mato-o. Mato-lhe. Mato você. Matar-lhe-ei-te. Ouviu bem?

- Pois esqueça-o e pára-te. Pronome no lugar certo e elitismo!

- Se você prefere falar errado...

- Falo como todo mundo fala. O importante é me entenderem. Ou entenderem-me?

- No caso... não sei.

- Ah, não sabe? Não o sabes? Sabes-lo não?

- Esquece.

- Não. Como "esquece"? Você prefere falar errado? E o certo é "esquece" ou "esqueça"? Ilumine-me. Me diga. Ensines-lo-me, vamos.

- Depende.

- Depende. Perfeito. Não o sabes. Ensinar-me-lo-ias se o soubesses, mas não sabes-o.

- Está bem, está bem. Desculpe. Fale como quiser.

- Agradeço-lhe a permissão para falar errado que mas dás. Mas não posso mais dizer-lo-te o que dizer-te-ia.

- Por que?

- Porque, com todo este papo, esqueci-lo.


Luis Fernando Veríssimo

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Curtinhas 3

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O crédito da loucura
foi a melhor coisa
que poderia ter-me acontecido
Saí do jugo da coerência
Ao abraço do insandecido.
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Meu único
Discurso
é a 
Prática
da Compreensão


Falta-me somente
Praticar
o Discurso
da Expressão.
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Quando encontrei o rumo
Sacanagem!
Perdi o prumo.
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nathalia colombo

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Soneto do Neurótico

Adoro essa vida odiável
Emocionante e tediosa
Tão gentil, tão intratável
Tão sinistra, tão saborosa.


Detesto essa vida adorável
Acho a alegria pegajosa
A esperança, pra mim, deplorável
E a angústia, deliciosa.


Tranquilo no meio da tormenta
A tranquilidade só me descontenta;
Ao seguir uma reta tortuosa


Fujo da briga e vou à luta
Amando essa vida filha da puta
E odiando essa vida maravilhosa.


Victor Colonna