"NINGUÉM DERROTA A MORTE SEM MATAR-SE"

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A Toca do Coelho

"Quem, de três milênios,
Não é capaz de se dar conta
Vive na ignorância, na sombra,
À mercê dos dias, do tempo."

Goethe

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Hilda Hilst

Se quiseram saber se pedi muito
Ou se nada pedi, nesta minha vida,
Saiba senhor, que sempre me perdi


Na criança que fui tão confundida.


À noite ouvia vozes e regressos.
A noite me falava sempre sempre
Do possível de fábulas. De fadas.


Eu era uma criança delirante.


Nem soube defender-me das palavras.
Nem soube dizer das aflições, da mágoa
De não saber dizer das coisas amantes.


O que vivia em mim, sempre calava.


E não sou mais que a infância. Nem pretendo
Ser outra, comedida. Ah, se soubésseis!
Ter escolhido o mundo, este em que vivo


Ter rituais  e gestos e lembranças.
Viver secretamente. Em sigilo
Permanecer aquela, esquiva e dócil


Querer deixar um testamento lírico


E escutar (apesar) entre as paredes
Um ruído inquietante de sorrisos
Uma boca de plumas, murmurante.


Nem sempre há de falar-vos um poeta.
E ainda que minha voz não seja ouvida
Um dentre vós, resguardará (por certo)


A criança que foi. Tão confundida.


Hilda Hilst

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Ontologia Sumaríssima

Umas quatro ou cinco coisas,
no máximo, são reais.
A primeira é só um gás
que provoca a sensação
de que existe no mundo
uma profusão de coisas.

A segunda é comprida,
aguda, dura e sem cor.
Sua única serventia
é instaurar a dor.

A terceira é redondinha,
macia, lisa, translúcida,
e mais frágil do que espuma.
Não serve para coisa alguma.

A quarta é escura e viscosa,
como uma tinta. Ela ocupa
todo e qualquer espaço
onde não se encontre a quinta
(se é que existe mesmo a quinta)

A qual é uma vaga suspeita
de que as quatro acima arroladas
sejam tudo o que resta
de alguma coisa malfeita
torta e mal-ajambrada
que há muito já apodreceu.

Fora essas quatro ou cinco
não há nada,
nem tu, leitor,
nem eu.



Paulo Herriques Britto

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Transfiguração

À sombra de tantas nós
Na trilha de muitos outros
Sob a inércia de cinco mil anos
Subjugada a luxuriosa exaltação
e tão logo, ao derradeiro adeus.
A guerra travada entre as milhões de mim
apazigua no sonho
no teu doce sono exaurido de carne,
carnificina
por detrás da cochia
do espetáculo da normalidade 
teu lindo sorriso
estampando minha primeira capa.


A intenção ferina
fere mais que a chaga 
Como o luar abranda a alma
de quem o amor levou a vaga
Não mudes, meu bem
Eu entendo também
Violência
mover uma vírgula tua,
transfiguração dói e apaga
a vida ao dizer amém.


Desfigurada
Já não tenho orgulhos de beleza
e nem vaidades pra ocultar defeitos
Aqueles
que somente quando
não negligenciada a atenção de mim
enxergarias o desejo
o teu exato ensejo.
Permanência a teu lado?
Amo-te nos versos alados
de carícias, inumeráveis
de paixão, marcados 
de vida, incontáveis
de pranto contido
de saudades invioláveis
ao que
lhe faço desejado de mim
e a mim
amada de ti.
nathalia colombo



Das funções biunívocas

Seja o teu domínio
o IImáginário e
tua imagem
será IReal.


nathalia colombo

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Das Utopias

Se as coisas são inatingíveis... ora!
não é motivo para não quere-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
a magica presença das estrelas!

Mario Quintana

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Convite


Aos amantes

Um brinde à nós, meu amor!
Outro brinde ao acaso e outro
ao desprendimento
à despretenciosidade
à espontaneidade
e outro
ao momento.

Se é preciso amor pra poder pulsar
brindemos, portanto
à nossa crescente capacidade de amar!

nathalia colombo

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Andorinha

Andorinha lá fora está dizendo:
— "Passei o dia à toa, à toa!"


Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!
Passei a vida à toa, à toa . . .



Manuel Bandeira

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Espelho Plano

VIDA contagia VIDA


nathalia colombo