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A Toca do Coelho

"Quem, de três milênios,
Não é capaz de se dar conta
Vive na ignorância, na sombra,
À mercê dos dias, do tempo."

Goethe

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Monteiro Racista

Desde já afirmo que o texto poderá ser polêmico. Não acredito que se torne, mas pode acontecer. De qualquer forma, não era para ser.
Onde, no mundo atual, ainda há espaço para polêmicas sobre a cor (Posso escrever cor?) de alguém? De acordo com as últimas notícias no Conselho Nacional de Educação ainda há. Para quem não sabe o que aconteceu, eu explico.
                Fizeram uma denúncia a um dos membros do conselho de que o livro “Caçadas de Pedrinho” de Monteiro Lobato era preconceituoso. Para resumir, a relatora concordou, enviou seu parecer para o Conselho e ele foi unânime em concordar com o parecer dela. O relatório pede ainda que o livro não seja mais distribuído em escolas, mas se continuar sendo que contenha uma nota falando sobre os recentes estudos sobre igualdade racial.
Se Monteiro Lobato era racista, o Naturalismo era o que? Prendam meu ex-professor de português! Aquele mensageiro do inferno recomendava “O Cortiço” de Aluísio de Azevedo. Para quem não leu, tem uma mulata (Essas mulatas...) que acaba com um casamento.  Um português que é violento e adúltero (Essas mulatas...). Ainda chama o malandro de covarde e por aí vai. Jorge Amado é outro, Tieta e Dona Flor realmente são exemplos de mulheres!  
A verdade é que conseguiram transformar coisas sérias como igualdade social e racial em palhaçadas. O objetivo disso tudo é tirar o foco dos reais problemas. Como salários melhores e mais valorização dos profissionais de uma instituição de ensino, de todos eles, não só dos professores! Escolas decentes e mais seguras. Como seguir com o planejamento anual se toda semana a aula tem que ser interrompida por causa de tiroteio? Só eu acredito que se os alunos tivessem uma aula de português decente não precisariam de uma nota explicando que Monteiro Lobato usava figuras de linguagem? Até porque depois será necessário anexar outra nota explicando figuras de linguagem.
Se um negro tem o direito de usar uma camisa escrita “100% negro” um branco tem o mesmo direito de usar uma camisa escrita “100% branco”. Mas sabemos que não é assim que as coisas funcionam, logo apareceria alguém dizendo: Ninguém é 100% branco seu preconceituoso. Assim como ninguém é 100% negro. Ambos pelos mesmos motivos. Só eu acredito que se os alunos tivessem uma aula de história ou geografia decente não precisariam de uma nota explicando o motivo disso?
Eu já vi negro dizendo para outro negro que ele só faz negrisse. Isso não é preconceito? Já vi gordo dizendo para outro gordo que ele só faz gordisse. Isso não é preconceito? Quando um negro chama um branco de ”leite estragado” é o que? Quando um gordo chama um magro de “bambu” é o que? E o preconceituoso é o Monteiro Lobato por causa de um livro publicado em 1933!
Infelizmente, muitas pessoas utilizam o preconceito como escudo para as próprias deficiências. Como se competência tivesse alguma relação com o código genético. Certa vez vi na televisão uma modelo dizendo que não tinha conseguido o papel em um comercial pelo fato dela ser negra. Ela simplesmente ignorou o fato do comercial ser para um xampu para cabelos lisos e ela ter cabelos encaracolados. Não, para ela é mais fácil por a culpa no preconceito e dizer que não conseguiu o papel por ser negra (E não era!).
Não digo que o preconceito tenha acabado no Brasil. Não sou maluco ou idiota de dizer isso. Mas afirmo que um dos motivos dele não ter acabado é por que muitos só querem saber da igualdade no direito de passar por cima do outro. Independentemente de cor, credo ou classe social.
Um branco pode acabar com a vida de outro branco que ele não goste tanto quanto um negro pode acabar com a vida de outro negro. O nome disso é índole. Algo que não pode ser medido pela quantidade de melanina nela.  Só eu acredito que se os alunos tivessem uma aula de biologia decente não precisariam de uma nota explicando o motivo disso?
De repente você esteja pensando. “É, mas aqui é Brasil! As coisas são sempre assim”. E isso não é preconceito?

Luis Otávio Felgueiras

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