Havia um rio que corria, límpido, lânguido,
Pacífico e sinuoso.
Seu curso era composto
Por curvas femininas e sedutoras
Com vegetação virgem e imaculada,
Nem de mais, nem de menos.
Sua planície ostentava verde vibrante
Donde a natureza orgulhava-se de sua obra
Altiva, imponente,
Alusiva, encantadora.
Uma obra de arte viva
A retratar-se em paredes de galerias de arte
E inspirar poesia à quem se exibia.
E, como se fora por maldição
Uma tempestade nunca antes vista
Assolara a região.
Por muito tempo sustentada
Pela fortaleza dos maciços rochosos que
Não resistiram a ação intempestiva e
Destemperada do acaso,
A terra esvaia-se em lamas que sangravam
e manchavam o nível d`'agua já elevado.
A planície inundada exibia árvores pendidas
umas nas outras, entrelaçando suas espécies
Bloqueando a passagem da água, auxiliada
pelas impiedosas rochas cujo empenho
era alastrar a catástrofe rio a baixo.
Entretanto,
Economizando suas forças
E (sempre)
Seguindo o caminho de menor dispêndio de energia,
por entre as frestas, de árvores entulhadas
cruzando as brechas das paredes rochosas
o deflúvio encontrou seu caminho.
Sua vazão reduziu e fragmentou-se em uma bela
Queda d’água onde copulava com
Uma pequena piscina natural
Berço de novas espécies e frescor para o banho.
Daquela catástrofe homérica
Nasceu uma esplêndida paisagem
Acidentada, disforme, complexa,
Desafiadora, subversiva e exuberante.
A vida ali cresceu em número e variedade
E nessa expressão confusa
O curso encontrou verdadeira serenidade.
nathalia colombo
É incrível como músicos e poetas só são bons quando a vida deles foi intensa de alguma(s) forma(s) em alguma(s) hora(s).
ResponderExcluirLindo demais, parabéns.
Este poema pinta um belo quadro na cabeça. E apesar de gostar da tranquilidade de um rio bem sinuoso confesso que sempre gostei muito mais das cachoeiras. rsrs
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