"NINGUÉM DERROTA A MORTE SEM MATAR-SE"

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A Toca do Coelho

"Quem, de três milênios,
Não é capaz de se dar conta
Vive na ignorância, na sombra,
À mercê dos dias, do tempo."

Goethe

sábado, 31 de julho de 2010

Sobre o Ridículo dos Relógios

Por que aprisionar nossas vidas
em correntes de meses, semanas, dias,
submetendo nossa existência
 à ditadura das horas?

Por que nos deixamos levar
pelas voltas deste pião desvairado
que chamamos Terra ?

Seria tão mais fácil se esquecêssemos os anos
e dividíssemos nossa passagem por este mundo
em instantes de alegria,
momentos de emoção
ou vivências inesquecíveis.
A humanidade se entenderia melhor.

Quem me dera se eu pudesse
Olhar bem fundo em teus olhos
e dizer: "Tô com saudade.
Faz cinco sorrisos que não te vejo".
Então matássemos toda saudade,
Contando o tempo em beijos.

José Calazans

"Sugestão" de Chaplin para a vida (Excelente!)

“A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. 

Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade.


Você vai para colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?”

sexta-feira, 30 de julho de 2010

A Parábola do Rio


Havia um rio que corria, límpido, lânguido,
Pacífico e sinuoso. 
Seu curso era composto
Por curvas  femininas e sedutoras 
Com vegetação virgem e imaculada, 
Nem de mais, nem de menos.
Sua planície ostentava  verde vibrante
Donde a natureza orgulhava-se de sua obra
Altiva, imponente,
Alusiva, encantadora.
Uma obra de arte viva 
A retratar-se em paredes de galerias de arte
E inspirar poesia à quem se exibia.

E, como se fora por maldição
Uma tempestade nunca antes vista
Assolara a região.

Por muito tempo sustentada 
Pela fortaleza dos maciços rochosos que
Não resistiram a ação intempestiva e
Destemperada do acaso,
A terra esvaia-se em lamas que sangravam
e manchavam o nível d`'agua já elevado.
A planície inundada exibia árvores pendidas 
umas nas outras, entrelaçando suas espécies
Bloqueando a passagem da água, auxiliada
pelas impiedosas rochas cujo empenho
era alastrar a catástrofe rio a baixo.

Entretanto, 
Economizando suas forças
E (sempre)
Seguindo o caminho de menor dispêndio de energia,
por entre as frestas, de árvores entulhadas
cruzando as brechas das paredes rochosas
o deflúvio encontrou seu caminho.
Sua vazão reduziu e fragmentou-se em uma bela
Queda d’água onde copulava com 
Uma pequena piscina natural
Berço de novas espécies e frescor para o banho.

Daquela catástrofe homérica
Nasceu uma esplêndida paisagem
Acidentada, disforme, complexa,
Desafiadora, subversiva e exuberante.
A vida ali cresceu em número e variedade
E nessa expressão confusa
O curso encontrou verdadeira serenidade.

nathalia colombo

quinta-feira, 29 de julho de 2010

O Poema do Poeta

Este é sinistramente sensível


O Poema do Poeta
estava em algum lugar do meu peito
Palavras me saiam da boca
Algumas sem nexo
Outras sem jeito
Eu me retirara
Sem que ninguem me visse
Buscando abrigo no meu peito triste
Onde o tempo para
e parado recitei pra mim mesmo
Como se o espelho tivesse ouvidos
Os versos a esmo
De um coracao dividido
E a desordem do peito apertado
Que derivava da melancolia
Continha em cada pitada de tristeza
Uma dose maior de harmonia
Porque estava dividido
isso o Poeta omitia
Mas foi assim que saiu do meu peito
Mais esta poesia



O Poeta Ligeiro

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Padroeiro do Divórcio

Toinha é raça
Liderança, coragem.
Mulher de um homem só
E mãe
De pra mais de cinco
Parteira e bodegueira
Bem fornida, mas caseira.
Toinha é o exemplo
de mainha cozinheira.

Já Aninha é brejeira.

Das manhas sedutoras
Dos olhares ligeiros
Da língua sem papas
A moleca dos solteiros.

Toinha aconselha
Que Aninha é solteira
"Vai ficar com babas de rameira"
Mas a filha tem centelha.

A carola agora reza
Às brumas da religião
A todos os santos e imagens
Canonizados ou não.

Santo Antônio se apressa
Com extrema preocupação
“Arranjarei um casamento
Se andares em retidão."

Promessas impagáveis
Foram feitas com o santo
“Minha filha vai casar!
Não quero mais que tanto."

Mas Aninha tira o sono
Dos boêmios sacripantas
Dos casados moralistas
E das honestas todas santas.

Dirceu, pai de criação e
Homem de Toinha
Intercede por compreensão.
"Casa logo, menina!
Dá paz a tua mainha!
Não vê que com esse andar rebolativo
Essa carne escandalosa
E esse olhar convidativo
Acabará solteira e rancorosa?"

"Por quem me tomas , homem de Deus?
A que te importa que eu fique assim?
Se desejas que me case
Venha tu e padeça-te em mim.
Bem sei dos olhares que me dedicas
Para que negar o fato,
Se é amante meu
Sem praticares o ato?"

Dirceu enfeitiçado
Já não pode nem pensar
Num suspiro pecaminoso,
Os dois se entregam ao pesar.

Aninha finalmente
Tem vontade de casar
Dirceu só tem culpa
Mas bem sabe onde sanar

O santo, de saco cheio
De cobranças sem par
Resolveu casar a filha
Mas a mãe atrapalhar

“Porquanto me atormentastes
Por um genro à sociedade,
Junto teu marido
A tua filha nas escuridades"

O dia mal escureceu
E a fama já correu
Aninha de Toinha
Era agora de Dirceu.                      

nathalia colombo 

terça-feira, 27 de julho de 2010

Parodiando Drummond

Sorria, você está sendo filmado.
Não pelas indiscretas
câmeras da cidade ou
Pelas pessoas que
sutil e surdinamente
agrilhoam seus modestos passos.
Não!

Sua existência está sendo louvada
Por espectros artísticos e
Entidades anônimas iluminadas.
Elas vagam pelo universo inquietas
Desbravando a indiferença,
Esquivando-se da hostilidade
Em busca de alento e plenitude
Numa mente serena que lhes dê abrigo,
Forma e expressão.

Portanto, esteja atento, alerta,
Sensível, receptivo.
Aprecie-as, ovacione-as
Babe pela vida!
Se perceber uma emoção
Que tenta apoderar-se de si
Pare o que estiver fazendo!
Não despreze "o pulo do gato"
De um Insight, da sua sensibilidade.

Idéias Brilhantes não costumam
Nos dar uma segunda chance.

nathalia colombo

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Citação de Goethe

Em relação a todos os atos de iniciativa e de criação, existe uma verdade fundamental cujo desconhecimento mata inúmeras idéias e planos esplêndidos: é que no momento em que nos comprometemos definitivamente a Providência move-se também".
"Toda uma corrente de acontecimentos brota da decisão, fazendo surgir a nosso favor toda a sorte de incidentes, encontros e assistência material que nenhum homem sonharia que viesse em sua direção. Qualquer coisa que possa fazer, ou sonhe que possa fazer, comece a fazê-la agora. A ousadia tem em si genialidade, força e magia." 

Goethe

domingo, 25 de julho de 2010

Terceira Lei de Newton

"Era uma mulher louca
Doida que parecia matar-se
Ficava falando,gritando,berrando,
Sempre sozinha
Diziam-na estranha à vizinhança
Sempre incomodada
Com os desaforos daquela senhora:
“ Meu filho, meu marido, meu espírito,
não os levem de mim! “
Foi o assunto das janelas,
O interesse dos portões,
Cansados de incessantemente abrir
Para ver a louca que esbaforia por socorro.
O alvo se fez atingido:
A doida foi varrida, para longe dali.
A vizinhança, as janelas e portões
Finalmente descansaram;
E nunca houve adiante algo
Que estabelecesse atração entre
Portões e janelas,
Rosas e Margaridas,
Violetas e Camélias..."

nathalia colombo

sábado, 24 de julho de 2010

Natal

"Nasce um poeta!
Um parto arriscado, complexo
Quase um óbito materno.

Um grito de clamor e angústia
Arrebatam a pobre criança
Por tanto tempo alimentada 
pelas engrenagens que ressonam
seu sono na clausura.

E veio ao mundo, planeta, sociedade
Centrifugar o óbvio, romper os paradigmas
e Dançar em cima das tradições.

A perseguição o amendrontou
A hostilidade o esgamagou
A depressão o fez sangrar
E as trevas jaziram sua luz.

Nasce um poeta!
Um parto arriscado, complexo
Quase um óbito materno

Um grito de clamor e angústia
Arrebatam a pobre criança
Por tanto tempo alimentada 
pelas engranagens que ressonam
seu sono na clausura.

E veio ao mundo, planeta, sociedade
Centrifugar o óbvio, romper os paradigmas
e Dançar em cima das tradições.

E no seu peito de artista amador
Brotou o onírico magnífico
O esplendor apoteótico: 
O espelho além de sua imagem

Que se fez ressoar, refratar e refletir
Por tudo o que vive;
Por tudo o respira;
Por tudo o que há.

E nasce um poeta
Na esquina do bar,
Na receita doméstica,
Nos portos e velas,
No vento e aves
No olhos e olhares..."

nathalia colombo