"NINGUÉM DERROTA A MORTE SEM MATAR-SE"

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A Toca do Coelho

"Quem, de três milênios,
Não é capaz de se dar conta
Vive na ignorância, na sombra,
À mercê dos dias, do tempo."

Goethe

domingo, 29 de maio de 2011

Felicidade x Mediocridade

" Lóri estava suavemente espantada. Então isso era a felicidade. De início se sentiu vazia. Depois seus olhos ficaram úmidos: era felicidade, mas como sou mortal, como o amor pelo mundo me transcende. O amor pela vida mortal assassinava docemente, aos poucos. E o que é que faço? Que faço da felicidade? Que faço dessa paz estranha e aguda, que já está começando a me doer como uma angústia, como um grande silêncio de espaços? A quem dou minha felicidade, que já está começando a me rasgar um pouco e me assusta. Não, não quero ser feliz. Prefiro a mediocridade. Ah, milhares de pessoas não tem coragem de pelo menos prolongar-se um pouco mais nessa coisa desconhecida que é sentir-se feliz e preferem a mediocridade. Ela se despediu de Ulisses quase correndo: ele era o perigo."

Clarice Lispector  - Uma Aprendizagem ou O livro dos Prazeres





terça-feira, 24 de maio de 2011

Poema da Curva


Não é o ângulo reto que me atrai,
Nem a linha reta, dura, inflexível criada pelo o homem.
O que me atrai é a curva livre e sensual.
A curva que encontro no curso sinuoso dos nossos rios,
nas nuvens do céu,
no corpo da mulher preferida.
De curvas é feito todo o universo,
O universo curvo de Einstein.
 


Oscar Niemeyer

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Dos meus delírios

Há um algo a dizer
que quer dizer
o que diz

uma angústia
luminosa nesta insônia
uma vida a bater no
seio do aprendiz

É preciso estar
vivo ainda do passado da hora
e lúdico dos
horizontes previstos

a vida está além da fronteira seguinte

entregar-se é um suicídio
vital e
viver é mortal

Não sei o que ser-me-ei no seguinte
mas sei que
terei sonhos.



nathalia colombo

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O Enterrado Vivo


É sempre no passado aquele orgasmo,
é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.
É sempre no meu peito aquela garra.
É sempre no meu tédio aquele aceno.
É sempre no meu sono aquela guerra.
É sempre no meu trato o amplo distrato.
Sempre na minha firma a antiga fúria.
Sempre no mesmo engano outro retrato.
É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.
Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.
Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Meus Livros de Poemas (para Bibi Tornaghi)


Meus livros são 
bichinhos de pelúcia
dormem ao meu lado
me fazendo companhia

não fossem tão frágeis
até os abraçaria
com carinho e calor
meus livros de poesia

Mas veja bem 
que coisa
como foi acontecer

bem tola fui em
não antes perceber que

meus livrinhos de poemas
só vivem de serão
contando nos meus sonhos
o que está em meu coração

Vou até fazer vigília e 
ficar bem acordada para
ouvir seu ruído
escrever sua chamada

de luar e de estrelas
enfim adormecer
ouvindo meus livrinhos
vendo-os nascer.

nathalia colombo

terça-feira, 17 de maio de 2011

Quando?

Um dia vou escrever poemas.
Um dia vou escrever.
Um dia  vou.
Um dia.
Um.
.
nathalia colombo

domingo, 15 de maio de 2011

Coração Vulgar



Ser

O filho que não fiz
hoje seria homem
Ele corre na brisa,
sem carne, sem nome.


Às vezes o encontro
num encontro de nuvem.
Apóia em meu ombro 
seu ombro nenhum.


Interrogo meu filho,
objeto de ar:
em que gruta ou concha
quedas abstrato?


Lá onde eu jazia,
responde-me o hálito,
não me respondeste,
contudo chamava-te


como ainda te chamo
(além, além do amor)
onde nada, tudo
aspira a criar-se.


O filho que não fiz
faz-se por si mesmo.

Carlos Drummond de Andrade

sábado, 7 de maio de 2011

Soneto do Corifeu


São demais os perigos desta vida
Para quem tem paixão principalmente
Quando uma lua chega de repente
E se deixa no céu, como esquecida
E se ao luar que atua desvairado
Vem se unir uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher
Deve andar perto uma mulher que é feita
De música, luar e sentimento
E que a vida não quer de tão perfeita
Uma mulher que é como a própria lua:
Tão linda que só espalha sofrimento
Tão cheia de pudor que vive nua
Vinícius de Moraes