quarta-feira, 27 de abril de 2011
Manifesto Verso Livre
Todo verso nasce livre como capim
Vaso raso quebrado
Palavra de grosso calibre
Na Europa ou no caribe
Em Bagdá ou em Bombaim
Na Sibéria ou no Mississipi
A palavra corre ao vento no leito do abismo sem fundo.
Venham, palavras
Fazer parte desse mundo!
Brancas, negras, verdes, amarelas,
Penetras, peraltas, esquálidas, banguelas,
Eu vos saúdo palavras minhas, como filhas prediletas
Crescei e multiplicai-vos em outras palavras,
Até que voltem a ser o gesto raro, milimetricamente lírico
Batendo como um raio de sol na cabeça de cada casa
Em qualquer bairro,
Na favela ou na elite
Que a palavra grite no ar como um luar de brinquedo
Dissipando a escuridão.
Que cada homem ou mulher tome conta de seus medos
No vôo cego da solidão.
Que as rimas em ão bem como os trocadilhos infames,
Sejam abs(olvidos lá em cima, pela grande luz que nos ofusca.
Que os poetas sejam livres para ousar e humildes para aprender
Que cada poema seja o manifesto dessa busca
Claufe Rodrigues
quinta-feira, 14 de abril de 2011
quarta-feira, 13 de abril de 2011
O Guardador de Rebanhos IX
Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.
Fernando Pessoa
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.
Fernando Pessoa
quinta-feira, 7 de abril de 2011
Notícia de Jornal
Tentou contra a existência
Num humilde barracão.
Joana de tal, por causa de um tal João.
Num humilde barracão.
Joana de tal, por causa de um tal João.
Depois de medicada,
Retirou-se pro seu lar.
Aí a notícia carece de exatidão,
O lar não mais existe
Ninguém volta ao que acabou
Joana é mais uma mulata triste que errou.
Retirou-se pro seu lar.
Aí a notícia carece de exatidão,
O lar não mais existe
Ninguém volta ao que acabou
Joana é mais uma mulata triste que errou.
Errou na dose
Errou no amor
Joana errou de joão
Ninguém notou
Ninguém morou na dor que era o seu mal
A dor da gente não sai no jornal.
Errou no amor
Joana errou de joão
Ninguém notou
Ninguém morou na dor que era o seu mal
A dor da gente não sai no jornal.
Chico Buarque
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