"Pinto a cara com a tinta mais brilhante
para esconder minhas muitas sombras.
Uso uma roupa bem espalhafatosa
pra me proteger do medo e da solidão.
E torço pra que este nariz vermelho
tão redondo e engraçado
faça o público perdoar minha feiura.
Se faço contorcionismos impossíveis,
se me sujo, tropeço, escorrego
ou bato em mim mesmo com um martelo de brinquedo,
não é apenas para fazer rir.
É pra acalmar dores muito antigas.
Pois só no picadeiro eu sei fingir
que não sou covarde demais para os saltos dos trapezistas
ou que não sou um parasita
sugando gargalhadas pra se manter de pé.
E espero que em algum momento
entre o aplauso e o fechar das cortinas,
eu consiga ser feliz."
José Calazans
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
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