"NINGUÉM DERROTA A MORTE SEM MATAR-SE"

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A Toca do Coelho

"Quem, de três milênios,
Não é capaz de se dar conta
Vive na ignorância, na sombra,
À mercê dos dias, do tempo."

Goethe

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Cacete!!!



Receita de pizza


Dissolva dois tabletes de hipocrisia
numa porção de promessas não cumpridas.
Acrescente uma xícara e meia
de descaso e oportunismo.
Tempere com caixa dois à gosto
e não esqueça de rechear bem os bolsos
com bastante dinheiro público.
Leve ao Congresso por tempo indeterminado
e você terá todo o sabor
do político tipicamente brasileiro.


José Calazans

domingo, 8 de abril de 2012

E os dias se arrastam...

e as manhãs chegam
e as noites pulam
e a hora é do almoço
e o labor é tempo
e o prazer repousa

e os dias se arrastam...

e as manhãs pulam
e as noites repousam
e a hora é do tempo
e o labor chega
e o prazer é do almoço

os dias se arrastam...

e as manhãs repousam
e os noites chegam
e a hora pula
e o labor é do almoço
e o prazer é do tempo.

Nathalia Colón







sexta-feira, 6 de abril de 2012

TUDO BEM - Uma proposta absurda

( Um homem e uma mulher estão sentados num banco à espera. Há um balcão no canto esquerdo vazio)

Mulher: Tudo bem?
Homem: Tudo bem. E você? Tudo bem?
Mulher: Ah! Tudo bem!
(Silêncio)
Homem: Ah! Já ia me esquecendo! Como é que você tá?
Mulher: Tudo bem. E você? Tudo bem?
Homem: Tudo bem.
(Silêncio)
Homem: Você emagreceu, né?
Mulher: Imagina! Nem uma grama. Perdi 20kg.
Homem: Jura? Nem notei. Eu perdi 20anos.
Mulher: Esses regimes...!
(Silêncio)
Mulher: E, como é que andam as coisas?
Homem: Tu...
Mulher: Tudo bem!
Homem. Sim! Tudo bem! E você?
Mulher: Tu...
Homem: Tudo bem!
(silêncio)
Homem: Será que chove?
Mulher: Não. Já choveu.
Homem: Quando?
Mulher: Ano Passado.
Homem: Ah! Sim...
Mulher: Lembra?
Homem: Se lembro. Foi uma chuva linda! Meu marido morreu.
Mulher: Jura? Que lindo! E quando vai ser o velório?
Homem: Foi assim que meu filho nasceu.
Mulher: O velório?
Homem: Não. A chuva.
Mulher: Ah! Entendi.
( Trovão. Começa a chover.)
Mulher: Hum... acho que está na hora.
(O casal troca anéis. A mulher se levanta e caminha para o balcão. Uma balconista que nunca tira o sorriso do rosto aparece.)
Homem: Beijo, tchau.

Mulher: Eu trouxe tudo: Identidade, CPF, comprovante de residência, certidão de nascimento, atestado de óbito, quatro fotos 3x4 e um acompanhante.
Balconista: Qual é o seu número?
Mulher Trinta e sete.
( Mulher tira os sapatos e entrega a balconista. A balconista guarda dentro de uma caixa. Confere os documentos.)
Mulher: Tudo bem?
Balconista: Tudo bem! A senhora já pode ir morrer. Basta entrar naquela salinha à esquerda. A que está acesa.
Mulher: Obrigada! (Caminha para a coxia da direita.)
Balconista: Senhora! Sua testemunha. Ela deve te acompanhar. Normas da empresa.
Mulher: Tudo bem. Vamos? ( Para Homem. O Homem se levanta e os dois caminham.)
Balconista: Senhora!
(O casal pára. Os dois se viram.)
Balconista: Seu comprovante.
Mulher: Ah! Claro.
Balconista: Normas da empresa.
Mulher: Tudo bem.
Homem (para mulher): Tudo bem?
Mulher: Tudo bem.
(Os dois caminham de braços dados e devagar para a coxia. Apaga o banco, apaga o balcão.) Fim.

Nathalia Colón



domingo, 1 de abril de 2012

Gatos de Raça e a Inversão da Pirâmide de Maslow



Que o Brasil é um país que pouco incentiva a cultura, o mundo todo sabe. Que as leis de incentivo são um mero instrumento de censura de manipulação de recursos, já estamos cansador de ouvir. Que a maioria dos editais de já tem destino certo e os patrocínios fazem parte de um jogo entre uma pequena parcela da classe artística, dã! Novidade...

Então, se você não é um afortunado, ou não faz parte de um nicho privilegiado, como se promove cultura neste país? E... por que?

Minha resposta: raça.

Segundo Maslow e sua Pirâmide da hierarquia de necessidades humanas, as artes ocupariam o último nível, "Realização Pessoal", sendo, portanto,  a última das prioridades antropológicas. Depois de casa, comida, segurança e afetos, o último dos interesses na existência e na condição humana.

Não tenho a menor pretensão de desmentir um trabalho fundamental e tão sério, mas eu não sou a única que contesta, ao menos, o determinismo desta teoria. Eu mesma não a estudei por completo, mas me incomoda um pouco pensar que o sentido da nossa existência, esteja ligada quase que em sua totalidade, à sobrevivência, ao respirar, ao bater do coração, ao simples exercício saudável das funções fisiológicas. Tipo, viver para estar vivo e esperar a hora de morrer.

O que levaria então um homem a passar fome e não ter sequer onde morar, para poder pintar. Que impulso conduz uma pessoa a romper com toda a estabilidade que a vida pode lhe proporcionar em vista da possibilidade de fazer música. De onde vem esta força, visceral que inverte a pirâmide e presenteia a história de legados como de Van Gogh, Monet, Shakespeare, Francisco de Assis, Dostoiévski, entre muito outros.

Contraditoriamente a sociedade impele, mesmo por meio das dificuldades o surgimento das luzes de sua evolução. Os que abrem caminhos, expandem fronteiras e fazem a vida parecer ter um pouco de sentido  são os que roem a realidade para nos conduzir ao ideal. São, segundo Roberto Freire, promutantes, dotados de um gene de uma raça bem específica. Homanóides que nascem precocemente, e andam por aí, invertendo pirâmides e conduzindo revoluções. Sua característica mais notável: a  raça.

Dedico este despretensioso desabafo aos meus parceiros de cena. Gatos de raça, de rua, de vanguarda.

Valeu, Marquinho!
Valeu, João!

VALEU, GATARIA!