"NINGUÉM DERROTA A MORTE SEM MATAR-SE"

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A Toca do Coelho

"Quem, de três milênios,
Não é capaz de se dar conta
Vive na ignorância, na sombra,
À mercê dos dias, do tempo."

Goethe

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Receita de Homem (detalhes)



Os muito retos que me perdoem
Mas ser gauche é fundamental

É preciso que haja
Qualquer coisa de sol em tudo isso
Qualquer coisa de surf
Qualquer coisa de circo em tudo isso
Ou então
Que o homem aprenda a imprimir  o
Arquétipo do “great pretender” como
Nos bailes dos anos cinqüenta

Não há meio termo possível
É preciso que isso tudo seja errante


É preciso que os ombros emerjam do tórax numa envergadura
Semelhante de uma ave
E que sustentem uma postura moral indomável lapidando
uma escultura que lembre não menos
que a avidez de uma vela mestra pronta para navegar  com vento de través.

é preciso que a imagem das mãos delongue-se
para além do ante-braço, numa união tão contínua e insolúvel
cuja expectativa seja de um artefato habilidoso
tão minuciosamente forjado em vista de eventual emprego cirúrgico

e que exista em grande latifúndio dorsal

A pele deve ser seca nas mãos, nos braços,
no dorso e na face
Mas que as concavidades e proeminências sejam
úmidas, lúbricas
e no crescente da paixão permitam-se deslizar
rumo a horizontes improváveis

Sobremodo pertinente
É Que o homem não seja carente mas
Caliente
Que haja um canto delirante nos olhos
em reviravoltas e devaneios de paixão
pernas semoventes quando do enlace pelas pontas pélvicas de anima
que nos ouça o inaudível canto da combustão
E que ele não lembre nunca um circo sem magia
E a que a virilidade não seja mais
que o reflexo mais atraente de seus mais óbvios temores

Gravíssimo, porém, é problema dos pelos
Um homem sem pelos é como um solo desmatado

Que ele venha, não surja
Que vá, não parta.
e que erre
erre durante  sete dias
com a propriedade de um deus criador
e sem covardia
nos faça fiéis de sua fé errante e
beber do cálice sagrado da perdição

E que em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela
E mais perfeita de toda a criação
Inumerável.

Nathalia Colón